domingo, 26 de setembro de 2010

Arrependimento

Já fiz muitas coisas que hoje categorizo na lista das imbecilidades durante a vida. Mas o que seria dos acertos sem os erros? Qual seria nosso parâmetro para o comportamento ideal e a harmonia, sem o contrapeso do que nos faz mal? É preciso conhecer a fera para poder enfrentá-la. Contudo, no meio de uma vida onde erramos e acertamos, onde deve ficar encaixado oarrependimento?
Há um fato fundamental a ser colocado em cima da mesa antes que possamos julgar atitudes: o ser humano está quase sempre lutando para o seu próprio bem-estar. Isso significa que mesmo uma ação posteriormente julgada como estúpida provavelmente fora realizada com objetivos claros de conseguir alguma coisa. A frustração, contudo, é um dos grandes catalizadores para o arrependimento. Quando não conseguimos aquilo que gostaríamos e, por consequência, ainda temos um prejuízo por conta do ato, a primeira afirmação que chega aos nossos pensamentos é:“como me arrependo de ter feito isso”, ou, mais comum: “se eu pudesse voltar no tempo…”.
Sim, existem atos verdadeiramente estúpidos. Contudo, há também uma linha mais tênue entre o arrependimento sincero e o covarde. Observo, com uma constância maior do que gostaria, pessoas que colocam a culpa de tudo em suas próprias decisões do passado. “Ah, se eu não tivesse largado a faculdade”, “ah, se eu tivesse seguido o conselho de meu pai”“ah, se eu não tivesse saltado do quarto andar pensando que era o Super-Homem e ficado paralítico” – Ok, a última de fato eu consigo enxergar como arrependimento sincero, mas as demais não passam de bobagens atiradas por covardes. E mesmo o paralítico deve ter plena consciência de sua capacidade.
Não há ação que não gere reação. Nossos atos, sendo ou não estúpidos, tendem a nos devolver consequências positivas e negativas. O cidadão que decide cheirar uma carreira de cocaína sem dúvida viverá momentos de êxtase, mas não preciso comentar sobre os efeitos negativos que podem acompanhá-lo. Nossas bifurcações existenciais são, muitas vezes, como a carreira de cocaína posta em nossa frente, devemos decidir, num misto da personalidade que temos baseada nas influências que nos cercam, muitas vezes em pouquíssimo tempo. E é aí que muitos outros fatores começam a pesar de forma considerável.  As consequências, podem ser tão maravilhosas quanto trágicas. O que não podemos nunca esquecer, contudo, é de todas as experiências que aquele momento nos proporciona.
O arrependimento bate nesses momentos. Nosso cérebro, na tentativa de tentar se defender da dor, imagina as possibilidades do “se”“Se eu não tivesse me entregue ao amante”, “se eu não tivesse comprado”“se eu tivesse terminado mais cedo”. Não, a vida não é baseada nos “se’s” a menos que saia da mente de Einstein em teorias só postas em práticas nos seriados de J.J. Abrams. Nossa existência é feita de momentos, sensações, sejam prazeres ou dores. Arrepender-se de algo é automaticamente desejar que sua vida inteira pudesse ser alterada, pois não há ato, por menor que seja, que não tenha completa e total ligação com o que você é hoje.
Por muitas vezes desejei a habilidade de voltar no tempo para poder consertar um erro do passado. Ledo engano. Hoje posso enxergar com clareza, que seja nos erros ou nos acertos, nós sempre temos algo positivo a receber de qualquer consequência. Aprender, tornar a errar, acertar, acertar em excesso e descobrir um erro, todas as nossas ações moldam nosso comportamento, personalidade, caráter, podendo nos levar para profundas depressões ou entusiasmados estados de alegria. O grande ponto central daqueles que perdem seu entusiasmo, contudo, mora na perda de alguma referência.
Enxergar-se como um fracassado é a formula ideal para que você realmente venha a ser um fracassado, pois não existe um único homem vivo que possa ser considerado como tal. O fracasso é o resultado da frustração, mas não há mal irremediável o suficiente que o ser humano não tenha forças para vencer, ou pelo menos não àqueles que ainda possam se mover e pensar. Seja um jovem de dezoito anos que se vê numa situação desesperadora, ou um senhor de sessenta que acaba de decretar falência, sempre há um jeito de recomeçar.
Cada segundo lamentando pode representar um ano perdido. Dores existem, lidemos com elas, mas sigamos em frente, sem medo de cair de novo. Nosso potencial está na determinação e não no pesar.

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