segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pão e Circo

Nessa política de pão e circo, raras vezes pudemos presenciar tanto circo. Nem mesmo com Getúlio e suas infinitas táticas minuciosas de distração popular através do futebol, fomos capazes de presenciar tamanha chafurdação do povo em ópio fantasioso. Que tipo de pessoa reclamaria de seu governo quando este traz para o país o Panamericano (os jogos, não o banco), a Copa do Mundo e, quem sabe, as Olimpíadas?
Contudo, uma realidade é clara: o Brasil não está preparado para sediar uma Copa do Mundo. Este fato é nitidamente comprovado por qualquer fã futebolístico acostumado a marcar presença nos estádios brasileiros. O motivo? A corrupção dos ingressos.
Se você acha que poderá assistir a sua seleção, ou a qualquer outra partida da Copa, pense novamente. Maiores são as chances de você conseguir tal proeza no sul da Indonésia do que em seu próprio país. A menos, é claro, que sejas dotado de um imenso potencial financeiro, capaz de pagar as fábulas exorbitantes cobradas pelos ingressos oficiais ou as mais fantasiosas cobradas pelos cambistas. A Copa não é para o povo brasileiro, povinho que se reunirá às portas dos estádios para assistir em telões, tomando sua Skol (3 “é” 5) e preparando o funk para a seqüência.

Ainda não se sabe ao certo como será o esquema adotado em 2014 para a venda dos ingressos, mas de uma coisa já sabemos: da porcentagem destinada aos brasileiros a preços populares (esta ridiculamente pequena), a esmagadora maioria será vendida diretamente aos cambistas, agências de turismo e estabelecimentos comerciais, que automaticamente converterão os valores para os milhares de reais ou sorteios (Guanabara que o diga). Você não verá a cor deste ingresso, nem eu, nem qualquer um de nós. A situação é vergonhosa, não há estrutura, não há organização. E nossa polícia, bem, ela de fato sabe como agir neste tipo de caso, descendo o sarrafo em inocentes e jogando spray de pimenta em mulheres e crianças.
Um exemplo claro do despreparo completo do país para um evento de grande porte foi a final daLibertadores 2008, entre Fluminense e LDU. A corrupção foi tanta que, em apenas 4 horas, todos os 68 mil ingressos já estavam esgotados. Para isso acontecer, teriam de vender 5 ingressos a cada 1 segundo. O detalhe é que não houve venda pela internet, somente nos guichês especializados (imaginem, 5 ingressos por segundo).



Além de todos os motivos que levam um cidadão inteligente a ser contra o evento, teremos ainda os gastos públicos focados na construção de estádios de última geração. Dinheiro este que será absurdamente super-faturado para encher mais ainda os bolsos dos safados corruptos, marca característica desta União.
Veremos, como vimos no Panamericano, o dinheiro escoando dos cofres públicos, aos bilhões, em obras depois esquecidas, ou até mesmo dadas! Vide a vergonhosa situação de entregar, completamente de graça, um estádio que custou 280 milhões de reais (do nosso dinheiro) para o Botafogo. Dinheiro esquecido, escoado pelo ralo para encher os olhos de uma população necessitada de entretenimento. Vide também os milhões gastos na arena multiuso e no parque aquático Maria Lenk, completamente abandonados às moscas.
Penso, ou melhor, desespero-me ao imaginar a quantidade de bons projetos que seriam viabilizados com tamanho orçamento público. Esse é o país em que vivemos, a vergonha de governo que temos.

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